sexta-feira, 1 de agosto de 2008

BRÍGIDA NOS PAÍSES BAIXOS (HOLANDA)


(TEXTO RETIRADO DA e-magazine "GODIN IN MIJ" - A DEUSA EM MIM)

" Oh, Brígida, rogai por nós ao nosso senhor Jesus, para que nossas terras sejam protegidas e que nós estejamos e continuemos livres das pragas que matam nossos rebanhos. Santa Brígida, rogai por nós."

Ela, que nós conhecemos como Deusa Brígida, Brigit, Bridie, foi honrada em nosso país como Santa Brígida (Heilige Brigida) em Limburg: "de Heilige Briej". Essa adoração aconteceu principalmente no sul da Holanda e na Bélgica, nas províncias Limburg e Brabant.

Esses nomes são, novamente, derivativos de Santa Brígida, uma santa que viveu na Irlanda entre 453 e 523 d.C. Ela era uma moça nascida em uma família de fazendeiros, que se tornouseguidora de São Patrício da Irlanda e, mais tarde, fundou seu próprio convento, inicialmente com 7 mulheres e que depois cresceu rapidamente. Santa Brígida viajou, assim como São Patrício, por toda a Irlanda e até mesmo na Escócia e Inglaterra. Durante suas viagens, ela angariava seguidores e fundava novos conventos. E muitos lugares próximos aos conventos (normalmente ruínas), particulamente fontes, receberam seu nome.

Em Kildare encontrava-se o maior convento por ela fundado. Em uma determinada época, ele era tão extenso que se podia falar de uma verdadeira comunidade. Nesse local não só se praticava o culto religioso como também eram realizadas pesquisas científicas.

Santa Brígida morreu aos 87 anos de idade em Kildare, no dia 1 de fevereiro de 523. Em sua honra, foi aceso um Fogo Sagrado, que seguiu queimando por séculos e que, após um determinado período, extinguiu-se. Em 1993, no dia 1 de fevereiro, a chama em Kildare foi novamente acesa e é mantida pelas "Daughters of the Flame" (Filhas da Chama).

Esse é um pequeno apanhado sobre a história de Santa Brígida de Kildare. Quando, a partir do ano 600 até meados de 1100, muitos monges irlandeses partiram para a Europa continental com o intuito de converterem os pagãos à religião católica, muitos dos santos, suas histórias e formas de adoração seguiram com eles. Assim, Santa Brígida também foi trazida ao continente e aos Países Baixos.

Levando-se em conta que o catolicismo na Holanda manteve-se principalmente em Brabant e Limburg, é nessas províncias que ainda são encontrados lugares sagrados à Brígida, na forma de Santa Brígida. Tais locais são reconhecidos porque há igrejas, capelas, fontes, relógios e inclusive agremiações ou fanfarras que receberam o seu nome. As cidades da Holanda nas quais Santa Brígida é venerada são: Noorbeek, Brunssum, Castenray, Herten, Itteren, Middelaar e Nieuwstadt (em Limburg) e Bavel, Den Bosch e Geldrop (em Brabant).

Neste artigo quero falar mais um pouco sobre a adoração de Brígida, sobretudo em Noorbeek, e também vou falar um pouco sobre Geldorp, levando em conta que estive nesses dois lugares e pude experimentar a presença de Brígida.

Noorbeek é uma pequena vila situada ao sudoeste de Maastricht, bem próxima à fronteira com a Bélgica. Para muitos, portanto, uma longa jornada de carro, caso você queira visitá-la. Mas vale a pena caso você esteja procurando por Brígida. Há uma igreja, uma capela, um pinheiro, uma fonte e até um albergue que receberam o seu nome em homenagem à Santa Brígida.

Que a adoração à Brígida aqui tenha permanecido tão vívida deve-se ao fato de essa parte sulista de Limburg ser uma verdadeira região agrícola, uma importante fonte de renda.

Quando, em 1634, a peste bovina se alastrou, os aldeões de Noorbeek e arredores tiveram a sorte de possuir uma igreja em homenagem à Santa Brígida. Essa Brígida era conhecida como protetora do gado e certamente possuía também qualidades de curandeira.

A sua associação com a pecuária vem do fato de que Brigid era originária de uma família de fazendeiros e claramente um "milagre" deve ter acontecido na fazenda de seus pais. O pai e a mãe de Brigid eram generosos e sempre doavam leite aos pobres. Quando houve falta de leite, Brigid rezou a Deus e viu suas vacas produzirem leite em abundância. Ela também foi conhecida como alguém com maravilhosos poderes de cura, principalmente sobre problemas relacionados à visão.

Os moradores de Noorbeek rezaram para Santa Brígida, ou Briej, como eles a chamavam, e prometeram decorar um grande pinheiro em sua honra todo segundo domingo após a Páscoa caso suas preces fossem atendidas. Então, toda Noorbeek e seus animais foram salvos da peste. Também nos anos seguintes até bem recentemente, quando a peste suína e a febre aftosa alastraram-se, a cidade não foi contaminada.

Até hoje, todos os anos, os homens solteiros de Noorbeek enfeitam um grande pinheiro vindo do bosque, o transportam em uma carroça especialmente enfeitada para a ocasião e o erguem (através de um sistema especial) no segundo domingo após a Páscoa. O Pinheiro de Brígida permanece, então, durante todo o ano bem próximo à Capela de Brígida (Brigidakapel), no meio da vila.Uma outra tradição em Noorbeek e nas vilas dos arredores acontece no dia 1o de fevereiro, aniversário da morte de Brígida, quando a água e a comida dos estábulos são abençoadas para garantir saúde e fertilidade.

Em outras vilas, nesse dia, galhos de aveleira são respingados com água benta e utilizados para bater levemente no gado de forma a purificá-lo e garantir fertilidade para o próximo ano. E há muito tempo atrás, procissões também eram feitas, nas quais Brígida era carregada pelos campos para garantir fertilidade.

Além do Pinheiro de Brígida, muitas outras imagens da santa podem ser encontradas. Em primeiro lugar na Capela de Brígida (Brigida Kapel), onde as pessoas podem rezar e também acender velas votivas para a Santa. É interessante notar que, aqui, Brígida é mostrada não só com uma vaca, mas também com uma vela.

Na Igreja de Brígida, pode-se encontrar uma linda imagem dela, com uma vaca ao seu lado, e com um cajado, o que no mundo católico aponta para a sua santidade, comparável ao cajado de São Nicolau (Sinterklaas, muito festejado na Holanda em 5 e 6 de novembro. n.t.). Além disso, também podemos encontrar sua imagem em um vitral, onde ela, com uma vaca aos seus pés, segura um livro. Essa imagem aponta para a sua vida como religiosa (freira).

Finalmente, há uma Fonte de Brígida, situada na aldeia de Wesch, assim chamada porque essa fonte antigamente era usada como lavanderia (was / wej- plaats. n.t.). Ela é ainda muito fácil de ser vista. A fonte é a origem do riacho Noor, que dá o nome à cidade de Noorbeek (arroio do Noor. n.t.). O motivo pelo qual essa fonte recebe o nome de Brígida não é completamente claro, mas na placa colocada à frente dela está escrito um texto de 1858 que diz: "Santa Brígida, rogai por nós". Há também histórias de curas de males nos olhos por meio de compressas feitas com a água da fonte.

Após esse resumo dos lugares de Brígida em Noorbeek, quero parar com um assunto que se aprofunda mais na pura aparência e costumes à volta de Santa Brígida nessa pequena vila de Limburg.

Como provavelmente muitos aqui já sabem, existem muitas Deusas, histórias de deusas e costumes que foram convertidos para a fé cristã. Geralmente porque os costumes e adorações seculares não puderam ser abafados pela nova fé, principalmente nos campos. Durante minha visita à Noorbeek isso ficou muito claro.

Há pessoas que clamam que a Deusa Brigid está reencarnada como Santa Brígida. Isso já é alguma coisa, queira você acreditar ou não. Mas realmente patente é que Santa Brígida possui um pouco de todas as qualidades e poderes que a bem mais antiga Deusa Brígida possuía.

Assim como a Deusa Brígida possui um proeminente aspecto ligado ao elemento Fogo, hoje há uma chama mantida em honra de Santa Brígida. Também o dia dedicado à memória da morte de Santa Brígida, 1 de fevereiro, é precisamente "acoplado" com Imbolc, a festa da Roda do Ano na qual a Deusa Brígida é honrada.

Mas... continuando em Noorbeek...

Primeiro e especialmente a fonte!

Brígida é a deusa da cura e da purificação. Durante séculos ela foi adorada como o poder de cura das fontes e poços, que possuíam sua água santa, muito antes da menina Brígida nascer. Os antigos celtas iam às fontes à procura de cura e purificação, porém eles também utilizavam essas fontes e poços como locais para fazerem pedidos (desejos).

A fonte possui, também, um aspecto triplo. Assim, a água era vista, em seu "aspecto Virgem (Donzela)", como literalmente uma fonte de inspiração. Além disso, a água era vista como fonte de fertilidade e, no caso de Brígida, o nutritivo leite tanto materno (Mãe) como bovino. Finalmente, a fonte era considerada como o local no qual as almas após a morte eram coletadas por Brígida em seu aspecto Anciã e de onde as crianças novamente renasciam. A fonte da morte e do renascimento, portanto.

Ainda durante nossa visita à fonte de Noorbeek, sentimos claramente a ligação com a Deusa, a fonte é muito natural e límpida, intocada mesmo após anos de uso. Nós fizemos nossos pedidos e jogamos nossas "oferendas" na água. Também colocamos laços nos galhos das árvores que crescem ao redor da fonte, um costume que neste lugar (ao contrário de outros lugares da Holanda) é bem comum. Finalmente, desenhamos uma Brigitcross no calcário da fonte. A Deusa Brígida, em nossa opinião, retomou seu lugar.

E no que concerne os outros costumes em Noorbeek em relação à Deusa Brígida, segue-se:

Um dos animais totêmicos da Deusa Brígida é a vaca branca com orelhas ruivas, que representava, como já foi dito, a fertilidade do aspecto materno. A associação de Brígida com a vaca é muito mais antiga que a história em torno da Santa Brígida.

Seria muita coincidência considerar que a decoração do pinheiro, cujos galhos são podados até o topo, aconteça perto do dia 1 de maio, ou seja, no 2o domingo após a Páscoa. Adicionando-se a isso o fato de que a decoração tem de ser feita pelos jovens solteiros e que no passado as moças solteiras eram tocadas por galhos, aponta para um antigo costume de Beltane de dançar e "fazer a corte" à volta do Mastro de Maio (May Pole), o que sugere o aspecto "amante" de Brígida.

Para finalizar, quero fazer uma pequena mudança de rumo em direção a Geldrop, que fica a leste de Eindhoven. A igreja que recebe o nome de Brígida é a maior igreja de cúpula no centro de Geldrop.
Atualmente, os costumes aqui foram resumidos em um especial "Dia de Brígida" (Brigidadag) em 1o de fevereiro, mas para mim esse continua sendo um lugar extrordinário, fortemente ligado à Deusa.

Durante minha visita à Igreja de Brígida, pude experimentar uma energia feminina muito forte e dominante, muito mais do que em qualquer outra igreja (e eu já estive em muitas...). Talvez pela forma arredondada do centro (cúpula) da igreja, onde imediatamente abaixo da qual um tapete redondo com a imagem do céu e da Terra foi colocado ou talvez ainda pela notável quantidade de imagens femininas, principalmente Anna, Maria (há também uma bonita capela de Maria, que é "acoplada à igreja) e mesmo de Maria Madalena.

Talvez porque aqui Brígida também esteja muito presente, seja em imagens, em estandartes que apontam para Kildare ou seja em símbolos, como as cruzes na forma de Brigitcrosses ou então talvez porque aqui há uma notável imagem, que para mim só pode ser uma representação da Deusa Brígida: Com cabelos soltos (e portanto claramente não a devota religiosa), um carneiro aos seus pés como símbolo de Imbolc e em suas mãos um bula medicinal, o símbolo da cura.Mas isso não importa. É ótimo que existam lugares na Holanda onde podemos experimentar sua divina energia feminina, onde reencontramos a Deusa em nosso país. E eu espero que, com esse artigo, eu tenha ajudado um pouco vocês a achar o caminho.

MARION VAN EUPEN

Nota: Esse artigo foi escrito por Marion van Eupen, após sua viagem,feita em companhia de outras mulheres do Godinnentempel, à região sul dos Países Baixos (Limburg e Maastricht). A tradução respeitou o uso dos nomes da Deusa Brigid pelas sacerdotisas da Holanda, ou seja, Brígida.

Marion van Eupen em suas palavras: "Como Sacerdotisa de Brigit-Anna, estou ligada ao Godinnentempel (Templo das Deusas) em Hillegom e à paisagem da Holanda. Juntas tentamos novamente celebrar as antigas tradições da Deusa, originárias das regiões celtas, germânicas e normândicas, de uma madeira nova e moderna. Há tantas coisas valorosas que se perderam ou que nunca foram entendidas E há tantas coisas lindas para serem novamente experimentadas em conjunto. O feminino ( "moederland" - pátria mãe) deve primeiro ser novamente reconstruído para, depois, juntamente com o masculino ("vaderland" - pátria pai *), crescermos e formarmos um grande UM ("het mensenland" - a pátria humana). Nós convidamos você para juntas descobrirmos, experimentarmos, crescermos e celebrarmos. Com amor, luz e sorrisos, Marion.

*na Holanda usa-se, sempre, "vaderland"- pátria pai - ao se dirigir ao país. (n.t. )

Traduzida por Renata Almeida de Queiroz, freqüentadora do Godinnentempel. Renata é uma querida SIG, brasileira, mas que mora na Holanda.

2 comentários:

Daniel Juliano disse...

Gostei muito desta matéria. Um abraço com a bênção do fogo de Bright.

Nydia disse...

Adorei o post, super-completo. Gosto muito de Brigit, fiz inclusive uma bonequinha dela para minha irmã Dedê, quando ela estava no hospital. Depois que ela morreu, a boneca voltou para mim. Postei fotos do aniversário do Lucas no blog, dá uma olhada, foi tudo de bom.
Beijos!