
Na minha vida, de um modo ou de outro, sempre vejo mães atolando seus filhos de coisas para fazer. É escola de manhã, de tarde tem balé, natação, futebol, judô, inglês... Isso quando não os colocam em cursos aos sábados, e as crianças vão se esquecendo de apenas ser.
Entendo que muitas mães (aquelas que têm condições, é claro!) queiram preparar a cria para o futuro, alegando que se hoje, com faculdade e pós-graduação, já é difícil conseguir um emprego, imagine o que uma pessoa "despreparada" poderá "conseguir" no futuro. Por experiência própria, sei que algumas de nós tentam fazer esse tipo de coisa até mesmo para compensar a falta que fazemos às crianças, correndo atrás de nossas carreiras.
Infelizmente, assim, crianças ficam sem tempo até para brincar!
Algumas fazem suas refeições correndo para não "perder" a próxima atividade, esquecendo-se de que esse é um grande momento de conexão com a natureza, em que ela deveria honrar os alimentos que são oferecidos a ela e partilhar com a família, com seu círculo, um momento sagrado.
Essas questões já estavam em minha cabeça há algum tempo, e ontem, lendo uma entrevista da psicanalista Maria Rita Kehl no Estadão (ela está lançando um livro chamado O tempo e o cão — A atualidade das depressões - Boitempo Editorial, 304 pp., R$ 39), consegui achar algumas respostas para esse fenômeno:
"O que me preocupa é que, na tentativa de fazer render o tempo desde o começo da vida, hoje os pais de classe média e alta começam a educar seus filhos seguindo o mesmo princípio da agenda cheia. Algumas dessas crianças de compromissos se tornam insatisfeitas, dependentes de estimulação externa, incapazes de devanear e inventar brincadeiras quando estão desocupadas."
"A ansiedade materna, bem antes de se manifestar como expectativa pelo desempenho da criança, tem a ver com a presa em mantê-la sempre satisfeita. Mas a melhor forma de amar uma criança não é impedir que ela conheça a falta: a falta é constitutiva do aparelho psíquico. Ela não pode faltar! A criança começa a virar gente (sujeito) ao inventar recursos simbólicos para lidar com o vazio e a insatisfação."
Os grifos são meus. E esta foi uma pequena reflexão sobre o futuro de nossas crianças.